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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Joias tipicamente brasileiras

AE
Neymar e Lucas são duas joias tipicamente brasileiras. Duas que se completam e complementam qualquer time e uma Seleção que não será qualquer com as duas feras. Que viraram bichos na quarta-feira balofa de bola. O santista fez das suas com a bola, assumiu o time no lugar do ainda sem ritmo Ganso, marcou um gol de Neymar. Mas, em seguida, ignorando a regra, como muitos dos tantos remunerados do futebol, botou na cara uma máscara dele mesmo, recebeu o amarelo como mandam as interpretações e diretrizes da regra 12, e foi corretamente expulso. Cartão vermelho porque, na primeira etapa, Neymar fizera uma falta dura, recebera o amarelo, e só não foi expulso porque o árbitro teve a paciência que o santista não tem tido com a arbitragem. O contar até três que ele mesmo perde as contas, tanto que também apanha - e tanto que se joga até quando não é atingido.

O são-paulino Lucas recebeu em 180 minutos contra o bravo Santa Cruz das mais coladas marcações individuais dos últimos tempos. Acabou vencedor na luta inglória contra Everton Sena. Mas acabou expulso com sua sombra num lance discutível. Tanto que ele quase perdeu a ótima cabeça que tem, reclamando daquilo que considerou injusto - e eu também.

Faz parte do aprendizado. E Lucas vai aprender mais do muito que já sabe por ter interesse e humildade cada vez mais raros no futebol. Vai ainda mais longe também por essa virtude. Algo que fará que ele entenda que injustiças acontecem. É preciso respirar fundo e pensar até 15.

Mas além de repensarem alguns pontos as nossas estrelas e muitas nebulosas, é fundamental que os profissionais do esporte ao menos estudem as regras da atividade. A proibição ao uso de máscaras na celebração de gols está na regra desde 2007. É clara. Pode até se discutir se deveria haver a proibição (entendo que sim). Mas não se pode entender como um profissional não sabe disso. Pior: como treinadores, cartolas e demais remunerados (ou não) não orientem sem jogadores.

E, pelo amor de Pelé, não venham com a tese pueril que impedir o extravasamento da alegria é um crime lesa-bola. Para que raios triplos alguém precisa tirar a camisa depois de marcar um gol? Imagine você no trabalho: seu chefe avisa que vai te dar um aumento. Você levanta da cadeira, tira o paletó, a gravata, a camisa, e sai com ela na mão girando pelo escritório? Não há outras maneiras mais interessantes de vibrar?

Sem contar que arrancando a camisa você tira da mídia o escudo de seu clube, os logotipos dos patrocinadores que pagam seu salário. Ou ainda oferecendo o risco de expor mensagens políticas, religiosas, pessoais que podem ser mal entendidas. Ou muito bem compreendidas.

A máscara, a mesma história. E não preciso lembrar nomes infelizes da história para entender que é bom evitar coisas do tipo. Algo que o bom senso recomenda.

Pena, porém, que os árbitros que entendem da regra do jogo, por vezes, não entendem de futebol, e nem das mais naturais regras de convivência humana. Aplicam os cartões explícitos e esquecem os implícitos. Deixam Neymar apanhar todo o jogo, e o expulsam depois de um golaço espetacular quando aplicam uma única vez com correção o que está escrito.

É o tal equilíbrio que falta à arbitragem. Algo que também faltou a Fluminense e Santos nesta Libertadores. Algo que nem quero comentar. Afinal, eram dois dos meus favoritos ao título. Agora, são o quê?

IMPERADOR AUSTREGÉSILO - A imprensa pode fazer muito mal a um jogador. Não apenas pela cobrança desmedida, pela perseguição gratuita, pela exposição salarial irresponsável, por uma série de motivos - que os atletas e/ou boleiros também colaboram e dão mole. O pior do nosso papel de embrulhar peixe e estômagos, do papelão nosso de cada dia, é quando exageramos nos elogios. Algo que costumeiramente faço quando me empolgo com alguns nomes, times, jogos, dribles, gols e Barcelona.

Algo que a imprensa italiana fez até de modo banal há alguns anos. Viu um senhor artilheiro de técnica admirável, força física bruta e notável aptidão para o futebol fazendo toda sorte de gols... Não teve dúvida: com aquele nome de um imperador romano entre 117 e 138... Públio Élio Trajano Adriano! Ou apenas Adriano. Manchete pronta: Adriano, o imperador.

Fosse o nosso Adriano chamado Austregésilo, muito possivelmente ganharia outro epíteto. "Gladiador". Rambo. Street Fighter. Sei lá. Só sei que esses últimos são personagens criados. Como Adriano, o da Vila Cruzeiro, incorporou o apelido e o personagem. Quando questionado pela mídia pela falta de modos, quando confrontado internamente por cartolas, treinadores e companheiros, inclusive os muitos que o adoram, Adriano sai com a ladainha: ele é "o imperador". E com o poder a ele investido pelo "quarto poder" da mídia, acaba fazendo tudo que der na telha. Inclusive nada. 

Sou fã de Adriano desde as seleções de base e do Flamengo de 2000. "É um Serginho Chulapa com técnica. Promete muito", dele escrevi há 11 anos, pouco antes de ser chamado pela primeira vez para o Brasil do estreante Emerson Leão. Sempre fui fã do seu futebol. Queria Adriano titular em 2006. Queria Adriano na Copa em 2010. Queria Adriano no meu time em 2011. Quero crer que, em campo, vai se garantir, ao lado de Liedson. Não quero crer que mais uma vez vai se perder fora do gramado com imperatrizes, presidentes e membros da corte e da "nobreza".

Mas eu quero aplaudir Adriano Leite Correia. Não quero que as memórias de Adriano acabem como as da ficção da escritora belga Marguerite Yourcenar, que há 60 anos criou uma "autobiografia" do imperador romano dividida em seis partes. A última, "Patientia". Algo que deve ter o corintiano, o jornalista, o torcedor brasileiro. E o próprio Adriano para que não seja consumido pelo personagem que o faz perder muito mais que uma Copa, dinheiro, saúde, títulos e respeito.

Adriano tem bola para dar a volta por cima. Desde que por cima de seus problemas não se coroe com o império que não é dele. Ainda mais na república

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